Entre todos os heterónimos, Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes. Houve três frases distintas na sua obra. Começou a sua trajectória como decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada ‘fase sensacionista’, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman (a quem dedicou um poema, ‘Saudação a Walt Whitman’), versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do mundo moderno, do progresso técnico e científico, da industrialização e da evolução da humanidade. Nesta primeira fase, Álvaro de Campos foi influenciado por Marinetti, o fundador do futurismo. Após uma série de desilusões e crises existenciais, a sua escrita assume uma expressão niilista ou intimista, conhecida como ‘fase abúlicólica’, assemelhando-se bastante, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortónimo. A desilusão do mundo em que vive, a tristeza, o cansaço (‘o que há em mim é sobretudo cansaço’, assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a reflectir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na «velha casa»: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no poema pessimista Dactilografia.No poema Aniversário Álvaro de Campos compara a sua infância, ‘o tempo em que festejava o dia dos meus anos’ com o tempo presente, em que afirma ‘já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias’. Este é talvez o exemplo mais acabado – e mais conhecido – dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.
- Titulo: Poemas de Álvaro Campos
- Autor: Fernando Pessoa
- Editora: DUMBRIO EDITORA
- Idioma: Português
- Capa: OTRO FORMATO LIBRO
- Ano de edição:
- Assunto: LIBROS > LITERATURA > POESIA
- ISBN: 9789899877993